Ana está na sala de espera do centro médico, com um folheto sobre saúde sexual na mão, o rosto marcado por confusão e uma leve ansiedade. Pergunta-se se o que sente há meses – esta impossibilidade de qualquer penetração apesar do desejo – tem um nome. Tem 25 anos e nunca imaginou que o seu corpo pudesse reagir desta maneira. Sente-se ao mesmo tempo envergonhada e culpada, mas tem uma necessidade profunda de encontrar uma explicação. Uma amiga falou-lhe de vaginismo e ela espera que não seja isso.
Mas o que é exatamente o vaginismo? Quais são as possíveis causas e como pode ser tratado?
Olá, sou a Dra. Joy!
Neste artigo, vamos explorar detalhadamente este transtorno sexual feminino, os seus sintomas, os diferentes tipos e os tratamentos disponíveis para ajudar as mulheres que dele sofrem a recuperar uma vida satisfatória.
I – O que é o vaginismo?
O vaginismo é um transtorno sexual feminino caracterizado por contrações involuntárias e incontroláveis dos músculos do pavimento pélvico que rodeiam a abertura da vagina. Estas contrações podem tornar qualquer penetração vaginal difícil ou mesmo impossível. Trata-se de uma reação reflexa que pode ser desencadeada pela tentativa de penetração ou até pela simples ideia dessa penetração.
O vaginismo pode ser total, impedindo a introdução de qualquer corpo estranho va vagina (tampão, dedo) ou parcial, quando a penetração é difícil e dolorosa.
II – Tipos de vaginismo
Distinguem-se dois tipos principais de vaginismo:
- Vaginismo primário: Manifesta-se desde as primeiras tentativas de relações sexuais, tornando qualquer penetração impossível. Está frequentemente associado à apreensão em relação à primeira relação sexual e a um desconhecimento do próprio corpo.
- Vaginismo secundário: Surge após um período de vida sexual normal e pode ser causado por uma experiência traumática, dores durante as relações, infeções genitais recorrentes ou mesmo um parto. A dor vaginal durante o ato sexual é também conhecida como “dispareunia”.
III – Causas do vaginismo
As causas do vaginismo são variadas e podem ter origem física ou psicológica. Os médicos concordam que, na maioria dos casos, trata-se de uma combinação de vários fatores:
- Fatores físicos: Os músculos da região perineal contraem-se de forma incontrolável. Embora não exista um obstáculo fisiológico que explique a impossibilidade da penetração, fatores hormonais podem, por vezes, estar envolvidos.
- Fatores psicológicos: O medo, a apreensão ou a ansiedade em relação às relações sexuais são frequentemente presentes nas mulheres que sofrem de vaginismo. Diversas situações podem desencadear este problema, tais como:
- Infeções urinárias ou genitais recorrentes
- Falta de lubrificação
- Síndrome de Rokitansky
- Dores durante as relações (dispareunia)
- Problemas após o parto
- Stress
- Desconhecimento ou imagem negativa do próprio corpo
- Educação religiosa ou sexual muito rígida
- Transtorno de identidade de género
- Medo de engravidar
- Ansiedade generalizada relacionada com a sexualidade
- Experiências de violência sexual no passado
É importante destacar que, na maioria dos casos, o vaginismo tem uma origem psicológica.
IV – Sintomas e consequências
O principal sintoma do vaginismo é a impossibilidade de qualquer penetração vaginal. A dor na vagina (dispareunia) acompanha frequentemente as tentativas de penetração. As mulheres afetadas podem também sentir ansiedade, tensão ou desconforto durante as relações sexuais. O vaginismo pode ainda dificultar exames ginecológicos e a inserção de tampões higiénicos ou anéis vaginais.
Para além dos sintomas físicos, o vaginismo pode causar um grande sofrimento psicológico, devido à impossibilidade de ter relações íntimas e à diminuição da autoestima. O equilíbrio sexual e afetivo da mulher e do casal podem ser afetados. A ausência de coito devido ao vaginismo pode também dificultar a conceção. A dor e o medo da penetração podem levar a um ciclo vicioso, onde a antecipação da dor agrava o bloqueio e gera um sentimento de culpa.
V – Tratamentos para o vaginismo
O vaginismo pode ser tratado, e o tratamento depende da causa subjacente.
- Causas físicas: Uma parteira ou fisioterapeuta especializado pode ajudar na dilatação vaginal através de exercícios de relaxamento do pavimento pélvico e massagens. O uso de lubrificantes vaginais também pode ajudar a reduzir a dor.
- Causas psicológicas: A terapia cognitivo-comportamental é frequentemente recomendada para tratar os fatores psicológicos que contribuem para o vaginismo. Consultas de sexologia ou sessões de hipnoterapia podem igualmente ser benéficas. A comunicação dentro do casal é essencial para superar o vaginismo.
- A reeducação com dilatadores vaginais é uma abordagem comum, baseada em exercícios regulares e progressivos que permitem um melhor conhecimento do próprio corpo e uma aceitação gradual do contacto.
- As terapias de relaxamento muscular e as técnicas de biofeedback também podem ser úteis.
Não existe um medicamento específico para curar o vaginismo, mas um creme à base de lidocaína (anestésico local) pode ser prescrito para aliviar a dor durante a penetração. Em alguns casos, a injeção local de toxina botulínica pode ser considerada para um relaxamento muscular temporário. A psicanalise também tem sido proposta como uma abordagem terapêutica.
VI – Como saber se sofre de vaginismo?
É importante consultar um profissional de saúde (ginecologista ou sexólogo) para avaliar os sintomas e fazer um diagnóstico preciso.
O vaginismo é um transtorno sexual que pode ter um impacto significativo na vida de uma mulher e do seu casal. No entanto, é importante lembrar que existem tratamentos eficazes e que é possível recuperar uma vida sexual satisfatória.
Não hesite em consultar um profissional de saúde para obter ajuda e conselhos adaptados à sua situação.